Os Quatro da Candelária: Vamos falar da infância vulnerável?

Os Quatro da Candelária: Vamos falar da infância vulnerável?

Filme: Os Quatro da Candelária

Ano: 2024

Direção:  Márcia Faria e Luis Lomenha

Gênero: Drama, Questões Sociais

Classificação: A14

Disponível: Netflix

Sinopse:

A minissérie Os Quatro da Candelária, inspirada em eventos reais, retrata as últimas 36 horas de quatro jovens — Jesus, Douglas, Sete e Pipoca — que viviam em situação de rua no Rio de Janeiro antes do trágico massacre da Candelária, em 1993. A série explora a amizade e o cotidiano desses meninos antes do crime, abordando temas como exclusão, sobrevivência e esperança.

A série disponível na Netflix “Os Quatro da Candelária” aborda os acontecimentos de uma chacina que ocorreu no Rio de Janeiro em 1993. Conforme o contexto histórico, havia 72 crianças dormindo na escadaria da Igreja Candelária, dentre as quais 8 morreram devido a uma emboscada na madrugada, perpetrada por policiais à paisana que agiram por vingança após um ataque de pedradas no vidro de um carro da polícia um dia antes, conforme reportagem de jornal Globo. Segundo a entrevista dada ao jornal CNN, o diretor Luís Lomenha explicou o motivo da escolha do formato para contar a história e disse que a produção tem o objetivo de devolver a infância às crianças que morreram a tiros na tragédia. Na série, a história de 4 crianças é contada 36 horas antes do acontecimento, mostrando a vulnerabilidade que enfrentavam antes de estarem na calçada e seus sonhos, mesmo já estando naquela situação. Quero trazer um olhar sensível para não caiamos na mimese ou no estereótipo de julgamento; quero promover empatia e reflexão. A série apresenta a situação de crianças em situação de rua, um reflexo de questões complexas como pobreza, abandono e falta de proteção social. Ao observar essas condições, podemos evitar rótulos e focar na realidade. A história dessas crianças despertas sentimentos de tristeza e compaixão. Ao refletirmos sobre o que elas vivenciaram, podemos nos perguntar como nos sentiríamos se essas crianças fossem nossos familiares, filhos ou amigos. Esse exercício de empatia pode nos levar a compreender a profundidade do sofrimento e da exclusão que viveram.

Essas crianças precisavam de segurança, cuidado e oportunidades para viver uma infância digna. Reconhecer suas necessidades ajuda a enxergar além das circunstâncias e a refletir sobre as falhas sociais que as colocaram em uma situação de tamanha vulnerabilidade. Em vez de julgarmos ou rotulamos essas crianças como “marginais”, podemos pedir a nós mesmos e à sociedade que reflitamos sobre o que podemos fazer para evitar que outras crianças enfrentem o mesmo destino. Como podemos contribuir para uma sociedade que proteja e acolha? Esse olhar empático, nos ajuda a compreender a complexidade do que essas crianças vivenciaram e a reconhecer suas necessidades, ao invés de reduzir suas histórias a julgamentos e rótulos.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/1990, o cuidado com crianças e adolescentes é um dever de todos. Uma pergunta: quando essas crianças foram mortas em 1993, o ECA já existia. Afinal, falhamos como cidadãos?

Quais são as necessidades dessas crianças que nem sempre são atendidas? Como as políticas públicas podem garantir esse acolhimento e criar espaços de segurança emocional? E qual é o nosso dever como cidadãos?

Vamos pontuar alguns pontos:

Necessidades das Crianças Vulneráveis

  • Segurança Física e Emocional: Proteção contra violência e exploração em ambientes inseguros.
  • Apoio Psicológico: Acesso a profissionais que ajudem a lidar com traumas emocionais e psicológicos.
  • Espaços de Expressão e Escuta: Locais onde possam ser ouvidas e expressar suas emoções com respeito.
  • Educação de Qualidade e Inclusiva: Ensino que ofereça suporte emocional e promova autonomia e superação.

Políticas Públicas para Acolhimento e Segurança Emocional

  • Programas de Atendimento Integral: Políticas que integrem educação, saúde e apoio psicológico para lidar com vulnerabilidades.
  • Capacitação de Educadores e Profissionais: Formação para atuação empática e entendimento das necessidades das crianças.
  • Investimento em Projetos Comunitários: Apoio a iniciativas em educação e lazer em áreas vulneráveis, oferecendo ambientes acolhedores.

Nosso Dever como Cidadãos

  • Promover o Acolhimento na Comunidade: Apoiar iniciativas locais, criar espaços de diálogo e proteção.
  • Exigir Políticas Humanizadas: Cobrar dos governantes investimentos em acolhimento e proteção infantil.

Conclusão:

Por trás de cada dor, há uma história não contada. É essa reflexão que o diretor nos propõe, revelando uma infância repleta de sonhos, mas também marcada por vulnerabilidades e traumas decorrentes da exploração humana. Infelizmente, julgamos crianças e adolescentes em situação de rua sem nos questionar sobre a história de cada um, caindo em estereótipos sociais. Não defendo a barbárie que muitos executam, mas é nosso dever proteger a infância. Se chegamos a um nível tão profundo de estereótipo e julgamento desses jovens, possivelmente erramos como cidadãos.

Referências:

CNN Brasil. “Os Quatro da Candelária” busca devolver infância às crianças, diz diretor.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.

GLOBO. Chacina na Candelária – Memória Globo.