Professores: A profissão mais importante do mundo e a menos valorizada no Brasil

Professores: A profissão mais importante do mundo e a menos valorizada no Brasil

O Dia dos Professores, celebrado em 15 de outubro no Brasil, é um momento de reconhecimento para esses profissionais que desempenham um papel fundamental na construção da nossa sociedade, profissão que forma o futuro. Todos nós já tivemos um professor que admiramos, seja na infância ou na vida acadêmica, e alguns foram transformadores nas nossas escolhas profissionais. Como diria Paulo Freire: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

Qual é o papel do professor na sala de aula?

Rubem Alves, em sua obra Por uma Educação Sensível, faz uma comparação entre o cozinheiro e o educador. Uma cozinha moderna, sem um bom cozinheiro, não tem valor; da mesma forma, uma escola sem educador é uma escola sem sonho. O papel do educador em sala de aula é nortear pensamentos, despertar a curiosidade, desafiar e provocar a mente a pensar fora da caixa. Sem esses heróis, a sociedade naufraga no campo educacional.

Na leitura de Afetividade e Aprendizagem: Contribuições de Henri Wallon, de Laurinda Ramalho de Almeida e Abigail Alvarenga Mahoney (2007), os professores têm um papel crucial na construção do aluno.

Vamos imaginar que a sala de aula é o mar. Dependendo do clima, o mar está calmo ou de ressaca. Os alunos são navegantes com seus barquinhos do conhecimento, e o professor é o farol que guia cada um. Se não houvesse o farol, os barquinhos poderiam se afundar ou se chocar.

Esse cenário é apenas uma versão simplificada da realidade. Há lugares onde as escolas não possuem nem mesmo o básico. Conforme o jornal Correio Braziliense, “os tribunais de contas (TCs) do país fiscalizaram 1.082 escolas públicas, estaduais e municipais, de 537 cidades e do Distrito Federal, e chegaram a uma conclusão que vários pais e alunos há muito tempo já sabem: 57% delas são inadequadas como local para aulas.” Na mesma reportagem, os TCs constataram problemas principais nas escolas, como janelas, ventiladores e móveis quebrados; iluminação e ventilação precárias; infiltrações; e paredes mofadas. A limpeza e a higienização também foram apontadas como preocupações significativas.

Sob o mesmo ponto de vista, na reportagem da Exame, “o piso salarial dos professores brasileiros é mais baixo entre 40 países, segundo estudo feito pela Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em 2021.”

Nas escolas da capital paulista, é possível observar que cada professor possui, em média, 30 alunos, incluindo aqueles com necessidades especiais. Conforme a lei de 15 de junho de 2015, o limite autorizado é de até 20 alunos em salas de aula do ensino fundamental e médio público em São Paulo, quando há um aluno com deficiência. Se houver dois ou três, o número de matrículas não poderá ultrapassar 15. Para escolas particulares, o limite é de 20 alunos com até dois estudantes com necessidades especiais. A lei também permite a inclusão de um professor auxiliar, dependendo do grau de necessidade dos alunos.

Entretanto, a realidade das salas de aula para alunos com deficiência em São Paulo está longe de cumprir as leis em vigor. Apesar de regulamentações como a Lei Brasileira de Inclusão (2015) exigirem suporte adequado, muitos estudantes enfrentam dificuldades devido à falta de infraestrutura e profissionais capacitados. Isso sobrecarrega os professores, resultando em salas de aula lotadas, falta de materiais pedagógicos e infraestrutura precária, além de alunos com questões pessoais, o que acaba gerando violência no ambiente escolar, muitos professores enfrentam desafios com comportamentos inadequados e, em alguns casos, violência dentro das escolas, o que torna o ambiente de trabalho estressante e pouco acolhedor.

Em 2009, a professora Bernadete Gatti expôs o prognóstico sobre o apagão docente, apontando que a ausência de políticas públicas para recuperar o interesse pela carreira docente na educação básica, especialmente entre estudantes do ensino médio, pode levar ao colapso da produção científica. A evasão das licenciaturas e o “apagão docente” têm diversas origens, como a desvalorização da carreira, a imagem social ambígua dos professores, a baixa autoestima e a descontinuidade política (NEXO JORNAL, 2024).

Percebe-se que a profissão é desvalorizada pela sociedade e até mesmo pela mídia, o que influencia negativamente a motivação dos docentes. A falta de reconhecimento e respeito por parte de alunos e pais também contribui para a perda de entusiasmo pela carreira.

A burocracia excessiva e as demandas administrativas, somadas ao trabalho em sala de aula, levam ao esgotamento. A necessidade de equilibrar as atividades pedagógicas com obrigações administrativas é uma fonte comum de estresse.

Outro ponto é o desinteresse dos alunos pelos estudos e a falta de participação familiar, que contribuem para a desmotivação dos estudantes. Muitos professores se sentem impotentes, e essa frustração gera desconforto tanto para os docentes quanto para os alunos. Para enfrentar esse desafio, a colaboração entre escolas e comunidades é fundamental. Programas de tutoria e mentoria, eventos educacionais e o voluntariado de pais fortalecem o suporte aos alunos. Conselhos escolares são importantes para discutir melhorias, enquanto oficinas para pais promovem um apoio mais eficaz. Além disso, parcerias com empresas locais oferecem oportunidades práticas, e campanhas de conscientização valorizam o papel dos professores, criando um ambiente mais respeitoso e colaborativo.

Como Apoiar os Educadores em sua Missão?

Como sociedade, temos o dever de cobrar das políticas públicas, reconhecer e valorizar o trabalho dos professores por meio de salários justos, investimento na infraestrutura e em materiais pedagógicos, além de promover formação continuada que aborde novas metodologias de ensino. Em relação aos alunos com necessidades especiais, é essencial contar com um auxiliar preparado. Muitos docentes sofrem pressão e estresse na profissão, o que leva à desmotivação. Um acompanhamento adequado pode ajudar, assim como o suporte emocional e psicológico. O envolvimento da comunidade para melhorar a motivação dos alunos também pode aliviar a carga dos professores.

Conclusão:

Portanto, percebe-se que há um efeito dominó: sem uma estrutura adequada na base docente, uma escola apropriada e alunos engajados, tudo pode desmoronar. Por essa razão, é importante valorizar os professores, pois eles são como faróis. Um farol sem os devidos cuidados pode levar várias embarcações a colidir. É lógico que a escola precisa oferecer suporte para o acolhimento tanto dos docentes quanto dos educandos, já que muitos alunos carregam uma bagagem de violências, transtornos e outras questões que podem levá-los à autodestruição.

Assim, é fundamental implementar políticas públicas que atendam não apenas à infraestrutura física das escolas, mas também ao bem-estar dos professores e alunos. É importante também não esquecer dos demais profissionais que ajudam a manter a estrutura física em pé, mas isso será abordado em outra oportunidade.

Referências:

EXAME. Piso salarial de professor brasileiro é o mais baixo entre 40 países. Disponível em: exame.com.

TERRA. Salário de professor no Brasil é praticamente a metade da média dos países ricos, diz OCDE. Disponível em: terra.com.br.

BRASIL. INEP. OCDE divulga Education at a Glance 2020. Disponível em: gov.br.

CORREIO BRAZILIENSE. Levantamento aponta o estado lastimável das escolas públicas do Brasil. Disponível em: correiobraziliense.com.br.

NAZARÉ, Edilson. O papel da afetividade na aprendizagem. Disponível em: semanaacademica.org.br.

ALMEIDA, Laura Ramalho de; MAHONEY, Abigail Alvarenga. Afetividade e aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. São Paulo: Editora Loyola, 2007.

SÃO PAULO. Assembleia Legislativa. Lei nº 15.830, de 15 de junho de 2015. Disponível em: al.sp.gov.br.

NEXO JORNAL. Apagão docente: o que está acontecendo com as licenciaturas no Brasil. Disponível em: nexojornal.com.br.